quarta-feira, 13 de abril de 2011

Pausa

Vasculhando a superfície da pele, o tempo se dilata. É possível vasculhar poro por poro, imperfeição por imperfeição e, dentro de menos de um segundo, obter um mapa completo da perfeição de uma face.
Nessa pequena suspensão do tempo, observa-se a pele, já não tão jovem, e os pêlos curtos, negros e brancos, que se insinuam em sua superfície. Passeia-se o olhar, que se detém nas hastes negras e curvadas que são os cílios.
E enfim, o olhar. É aí que o tempo pára. Em dois poços negros, circundados por uma faixa de terra, ligeiramente tingida com um verde muito escuro nas bordas do tal poço. Uma faixa de musgos quase imperceptível. É um olhar firme, enraizado, porém, ainda com um que de inocência mal disfarçada.
O relógio volta a correr. Mas a memória retém aquele momento, aquele vasculhar.
A memória de um segundo se expande, e é possível reconstituir num piscar de olhos, poro por poro, imperfeição por imperfeição, toda a perfeição daquela face.

2 comentários:

Pat Lávisqui disse...

"com um que de inocência mal disfarçada." - ah, que coisa liiinda!

Luísa disse...

lindo!!
e "imperfeição por imperfeição, toda a perfeição daquela face".... ohh yeah...