quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Tarde


O carro pára, o motor ainda ligado. Sem dizer nada, ela retira a aliança da bolsa e a coloca de volta no dedo. Beijam-se em silêncio. Não é preciso dizer nada. Eles se olham, ela toca o rosto mal barbeado pela última vez e sai. Atrás dela, a porta do carro bate. Ela ouve o automóvel partindo enquanto caminha sem olhar para trás. Atravessa uma, duas, três quadras.
Pára em frente ao portão de madeira, respira, e entra. O som daquela voz ainda ecoa em seus ouvidos.

"Por que não?"
"Eu não posso."
"Por que?"
"Porque eu não posso."

Longe demais.
"Um garoto, apenas um garoto... É preciso viver! Esses sonhos tolos não levam a lugar algum..."
O quarto está abafado. Os sons da tesoura do jardineiro entram pela janela. O resto do mundo é silêncio.

"Por que não?"

Batem na porta.
O mundo real chama, é hora de despertar.

2 comentários:

Pat Lávisqui disse...

je-sus, q medoooo! o.O

Luísa disse...

quando o mundo real chamar, feche os olhos uma outra vez e dê um suspiro de sonho antes de levantar.